Panorama do Novo Testamento – Livros Históricos

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INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO

  1. Ivan Pereira Guedes

<!—->Os Livros Históricos

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Como foi mencionado, o Novo Testamento pode ser dividido dentro de três categorias, com base em sua constituição literária — o histórico, o epistolar, e o profético. Os quatro Evangelhos compõem 46% da literatura do Novo Testamento e se incluirmos o livro de Atos chegaremos aos 60%. É nesta maior parte do Novo Testamento que está registrada as origens e desenvolvimento histórico do Cristianismo. Ele esta construído sobre estes   fatos históricos. Isto é inerente da própria natureza do evangelho. Cristianismo é a mensagem do evangelho e o que é um evangelho?[1] São as boas notícias, informação derivada do testemunho de outros. Isto é, história, o testemunho de fatos históricos. “O evangelho é notícias de que alguma coisa  aconteceu — alguma coisa que transformou a maneira de se viver. E este alguma coisa é descrita a nós por Mateus, Marcos, Lucas e João como sendo a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.”[2] Seguindo neste mesmo objetivo, Atos continua o relato histórico da expansão da mensagem do evangelho, saindo de Jerusalém, passando pela Judeia e Samaria, e alcançando as partes mais distante da terra. Lucas deixa-nos claro este aspecto:

“Fiz o primeiro tratado (o Evangelho), ó Teófilo, acerca de tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar,  até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de Deus.” (Atos 1:1-3)                                     Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” (Ato 1:8)

Lucas é o primeiro volume e Atos é o segundo da obra de pesquisa histórica efetuada pelo Dr. Lucas  sobre a vida e ministério do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Esta história não termina com sua ascensão, mas tem continuidade através do Espírito Santo agindo na vida dos seus apóstolos. Atos é então o relato histórico do ministério apostólico  na vida da igreja em seus primórdios. Estes relatos tornam-se cruciais para uma compreensão correta das epístolas, que foram escritas para pessoas que viveram num tempo-espaço histórico definido.  O Novo Testamento, então, é o registro histórico das Boas Novas de Deus manifestado na história humana, não somente no passado, mas no presente e no futuro à luz das suas promessas .

<!—->Os Evangelhos sinóticos

Antes de iniciarmos o estudo de cada um dos Evangelhos, é necessário entendermos melhor a questão relacionada com os chamados Evangelhos Sinóticos[3].  Embora cada Evangelho tenha sua ênfase e propósito distintos, os três primeiros são chamados às vezes de Evangelhos Sinóticos porque eles “vêem juntamente,” ou seja, eles têm o mesmo ponto de vista em relação à vida e obra de Cristo.  Além disso, eles também apresentam a vida de Cristo em uma forma distinta, mas complementar, da oferecida por João em seu Evangelho.

Este assunto vem ocupando a atenção dos eruditos do N. T, durante o último século e meio[4]. Resumidamente. podemos expor a problemática sinótica conforme o faz, Russell N. Champlin em seu artigo ‑ “0 Problema Sinóptico” – conforme abaixo transcrito:[5]

  1. Os evangelhos foram escritos “independentemente” uns dos outros, sem qualquer fonte comum oral e escrita, sendo narrativas somente feitas de memória?
  2. Se ouve fontes comuns escritas ou orais, de que natureza e quantas eram elas?
  3. Qual dos evangelhos sinópticos é primário? E esse evangelho foi usado diretamente como fonte de Informação pêlos demais evangelistas? Nesse caso, como explicar as diferenças, até mesmo no material em comum?
  4. Qual foi a fonte de material usado pêlos evangelhos não‑primários, naquilo em que estão de acordo entre si, nas passagens que não figuram em Marcos?
  5. Quando um evangelho não‑primário tem material peculiar a si mesmo, qual foi sua fonte informativa?
  6. Quais foram as fontes informativas do evangelho primário?

 

Como podemos perceber nenhuma destas questões podem ser, com justiça. deixadas de lado ou suprimida. Todavia. inumeráveis propostas tem sido produzidas para esclarecer esta questão sinóptica[6]. Cada uma delas é capaz de explicar alguns aspectos do problema, mas não é suficiente para esclarecer todos. Analisando estas propostas chegamos à conclusão de que uma solução definitiva há de ser complexa. A melhor solução é aproveitarmos o que cada uma das diversas hipótese tem de verídico.

Uma vez que os novos estudos acabou pôr tornar obsoletas grande parte das hipóteses elaboradas no século passado, nos limitaremos a expor, para maior entendimento desta questão, apenas os estudos aceito pela maioria dos estudiosos como sendo os mais coerentes.

 

OS PONTOS EM COMUM DOS EVANGELHOS SINÓTICOS

 

  • Estrutura: Os três evangelistas utilizam‑se de um método muito semelhante para elaborarem seu trabalho, como segue: 0 ministério de Jesus tem inicio depois do batismo de João; segue‑se os milagres e pregações feitos na Galiléia; uma viagem para Jerusalém; e por fim encontra‑se os relatos da crucificação e ressurreição de Jesus[7]. Assim, dentro desta estrutura dos Sinóticos seremos induzidos a concluirmos que o ministério publico do Senhor Jesus foi de apenas um ano[8].

 

  • Seqüência das Diferentes Perícopes: Em muitos casos temos os evangelistas relatando na mesma seqüência vários acontecimentos. Os exemplos são vários, como podemos verificar nesta seleção feita por Bettencourt:[9]
  • a trilogia constituída pela pregação de João Batista, o batismo de Jesus e as tentações (Mt. 3:14,12 ‑, Mc. 1: 1‑ 14. Lc. 3:14,14);
  • outra trilogia composta da cura do paralítico, da vocação de Levi e da questão do jejum (Mt.9:1‑17­. Mc.2:1‑22‑, Lc.5:17‑39);
  • os acontecimentos culminantes do ministério de Jesus na Galiléia: a confissão de Pedro, a primeira predição da Paixão. a transfiguração do Senhor, a cura do lunático. a segunda profecia da Paixão (Mt. 16:13‑17:23‑, Mc.2:27‑ 9:32, Lc.9:18‑45);
  • algumas séries de milagres como: a cessação da tempestade, a cura do demoníaco de Genesaré (Mt.823‑34, W.4:35‑5:20‑, LcX.22‑39). a cura da hemorroíssa e a ressurreição da filha de Jairo (Mt.9:18‑26‑, Mc.5:21‑43­. Lc.8:40‑56);
  • a historia da Paixão do Salvador.

 

  • Similaridade na forma literária e no vocabulário: Há uma notável similaridade dentro de cada perícope nas quais algumas frases coincidem literalmente [mais claramente perceptível na língua original]. Deste modo, os três sinópticos trazem, pôr exemplo, a palavra de Jesus ao paralítico usando a mesma formula (Mc.2:lOss.). 0 pedido de José de Arimatéia pelo corpo de Jesus é relatado três vezes com as mesmas palavras (Mc.15:43; Mt.27:58; Lc.23:52). E o dito de que quem quiser salvar a sua vida perdê‑la‑á, mas quem a perder por causa de Jesus [e do Evangelho] salvá‑la‑á, retorna três vezes na mesma formulação (Mc.8:35; Mt 16:25; Lc.9.‑24).

 

  • Citações do Antigo Testamento: 0 peculiar aqui é que mesmo quando a citação é transcrita numa formulação diferente da que consta no Original Hebraico ou na Septuaginta os evangelistas sinópticos a fazem exatamente da mesma forma [mais facilmente perceptível na língua original]. Assim temos Is. 40:3 citado em forma própria em Mt.3:3; Mc.1:3; Lc.3:4; também Mal.3:1 em 11:10; Mc.1:2; Lc. 7:2 7.

 

Todas estas concordâncias, e poderíamos citar muitas outras, demonstram claramente que as semelhanças entre os três sinóticos não podem ser apenas fruto do acaso, ou como se diria que pelo fato deles descreverem os mesmos acontecimentos, acabaram pôr escolherem termos idênticos, mas se crê que deve haver uma relação de dependência literária. Todavia, para que possamos definir melhor tal relação. é preciso observarmos também as não poucas e consideráveis diferenças entre os três evangelhos sinóticos.

 

 

OS PONTOS DIVERGENTES DOS SINÓTICOS

 

Diferenças Quanto ao Conteúdo

 

Há passagens que são peculiar a dois ou a um apenas dos Evangelhos sinóticos, conforme abaixo colocamos alguns exemplos:

 

  • Mateus: é o único a referir‑se à perplexidade de José diante de Maria (1: 18‑25); a seqüência “visita dos Magos a Jesus; fuga para o Egito; morticínio dos inocentes, volta para Israel” (2:1‑23); algumas das Parábolas são registradas apenas por ele ‑ do joio (13:24‑30 e 36‑43), do tesouro. da pérola, da rede (13:44‑50), do servo perdoado, mas inclemente (18:23‑35). das dez virgens (25:]‑l3)~ o registro dc Pedro caminhando sobre as águas (14:28‑3 1).

 

  • Marcos: Dos três é o que menos material exclusivo possui ‑ as curas do surdo‑mudo (7:31­37), do cego de Betsaida (8:22‑26). a Parábola da semente que cresce por si (4:26‑29)… Por outro lado. omitiu completamente o Sermão da Montanha. e silenciou em relação a infância de Jesus.

 

  • Lucas: Como Mateus ele também insere muitos fatos independentes: acontecimentos da infância de Jesus (I e 2)‑, episódio com Marta e Maria (10:38‑42), Zaqueu (19128). Na própria narrativa da Paixão somente ele se refere a atitude de Herodes (23:612) e a do ladrão arrependido (23:40‑43).

 

Divergências na Seqüência dos Acontecimentos

 

Ao passarmos da leitura de um sinótico para outro, podemos perceber muitas vezes que há uma inversão na ordem dos fatos.

 

  • Em Mc 6:1‑6 = Mt 13:53‑58 encontramos o relato de Jesus sendo rejeitado em sua cidade natal, Nazaré; Lc, no entanto, informa já no início da atuação pública de Jesus a respeito de sua primeira pregação em Nazaré (4:16‑30).

 

  • Em Mc 1:16‑20 = Mt 4:18‑22 fala‑se resumidamente da vocação dos primeiros discípulos, enquanto em Lc a vocação de Pedro se segue à pesca maravilhosa (5:1‑11).

 

  • Mc trata primeiramente da afluência do povo e das curas de Jesus, e somente depois disto a vocação do circulo dos doze (3:7‑12, 13‑19); em Lc a seqüência é invertida (6:12‑16: chamado dos doze; 6:17‑19: afluência das multidões e curas).

 

  • Quando Jesus é tentado temos uma inversão nos registros de Mt e Lc em relação a segunda e a terceira tentação (Mt 4: 1 ‑11 e Lc 4:1‑13).

 

  • Mt condensa de forma sistemática o chamado Sermão do Monte ( 5 a 7 ), enquanto Lc o divide em várias porções independentes ( 6:20‑49: 11:11‑13, 33‑36; 12:22‑34. 58ss; 13:24-27; etc … ).

 

Divergências nas Narrativas dos Mesmos Acontecimentos

 

Em várias ocasiões os evangelistas sinóticos utilizam‑se de palavras ou expressões bem diferentes, mesmo quando fazem citação das palavras do próprio Jesus ou de outro personagem, não os registram uniformemente, ocorrendo discrepâncias que por vezes trazem dificuldade ao exegeta. Alguns, exemplos se fazem necessários:

 

  • Mt registra as palavras de João Batista em que ele diz que não é digno de carregar as sandálias do Senhor (3:11); enquanto que em Mc e Lc ele afirma que é indigno de desatar a correia das mesmas (L7, 3:16).

 

  • Mc (6:8) registra a ordem de Jesus aos Apóstolos para que não levassem em suas viagens missionárias senão o bastão habitual para longas viagens, porém. Mt (10:10) e Lc (9:3) registram que até o bastão teria sido proibido.

 

  • A oração do “Pai Nosso” ensinada por Jesus varia: em Mt 6:9‑13 é composta de sete petições. e em Lc 11:2‑4 contém apenas cinco.

 

  • A formula de ordenação da Santa Ceia também é registrada diferentemente em cada um dos sinóticos Mt 26‑26‑28, Me 14:22‑24 e Lc 22:19ss.
  • A inscrição na Cruz de Cristo é descrito diferentemente por eles: Mt 27:37. Mc 15:26 e Lc 23:38 (cf Jo 19:19).
  • As últimas palavras de Jesus também não são registradas das mesma forma pelos sinóticos. Em Mc 15:34 = Mt 27:46 o Senhor Jesus recita as palavras do salmista (22: 1) ” Deus meu. Deus meu, por que me desamparaste?”. Lc omite estas palavras, mas acrescenta outras três, ditas pelo Senhor e não registradas pelos outros dois (Lc 23:34,43.46).

 

Assim. não será necessário multiplicarmos os exemplos para podermos avaliarmos o alcance do problema que nos apresenta. Por que será que dentre tantos ditos e feitos de Jesus (Jo.20:30; 21:25). Os evangelistas sinóticos selecionaram tantos iguais, que eles apresentaram na mesma ordem, usando até mesmo vocábulos iguais, mas, apesar disto, diferenciaram-se em tópicos importantes e de maneira tão imprevista.

 

SOLUÇÕES À QUESTÃO DOS EVANGELHOS S1NÓT1COS

 

Até agora já vimos que os Evangelhos Sinóticos têm muitas características semelhantes, mas, também possuem muitas diferenças. Neste ponto do nosso estudo haveremos de examinarmos algumas possíveis explicações para esta problemática sinótica, não nos esquecendo nunca de que nenhuma delas é por si suficiente para esclarecer todos os pormenores.

 

  • A Hipótese da Mutua Dependência

A mais antiga e talvez a primeira tentativa de explicar como se relacionam entre si os evangelhos sinóticos[10] vem de Agostinho[11], cuja opinião era de que Mateus foi o primeiro a ser escrito e que Marcos se utilizou dele para fazer uma espécie de resumo, enquanto Lucas utiliza‑se tanto do primeiro quanto do segundo para elaborar o seu. E esta opinião do querido teólogo perdurou até aproximadamente 1835, com algumas variações menores.[12]

 

q  A Suposição de um Proto‑Evangelho

De acordo com esta hipótese, os evangelhos seriam diferentes traduções e seleções de um registro apostólico escrito em aramaico, denominado de “Evangelho dos Nazarenos”.  As diferenças narrativas dos evangelistas canônicos se daria pelo fato de que utilizaram-se de diferentes versões do “Evangelho dos Nazarenos” que circulavam por aqueles dias.

Esta explicação todavia é totalmente prejudicada pelo fato de não haver qualquer vestígio da existência deste “Evangelho dos Nazarenos”.

 

  • A Teoria dos Fragmentos

Os defensores desta teoria partem do pressuposto de que havia diversas anotações e registros feitas pelos apóstolos e discípulos a respeito de acontecimentos e ensinos de Jesus. Assim, os evangelistas canônicos tiveram acesso diferenciado destas breves anotações (diegeses) e elaboraram seus respectivos evangelhos.

Se esta proposta explica as muitas diferenças entre os sinóticos, todavia, não explica suas várias semelhanças, não apenas de pontos particulares mas principalmente no que concerne à estrutura dos próprios evangelhos.

 

  • A Proposta de uma Tradição Oral

Os expositores desta hipótese parte do pressuposto de que não havia, documentos escritos sobre o ministério de Jesus antes da produção dos evangelhos canônicos. Assim sendo, a única fonte dos escritores sinóticos foi a “memorabilia” do ministério de Jesus, preservada nas pregações públicas e nos ensinos dos apóstolos e dos demais discípulos que estiveram com o Senhor Jesus Cristo.[13]

Os aspectos defendidos nesta posição são:

  • não se discute o fato de que as narrativas da vida e dos ensinos de Jesus foram transmitidas em forma oral pelas suas testemunhas, em principio;
  • documentos antigos (Papias) nos informam ‑que o Evangelho de Marcos consta da pregação do Apóstolo Pedro, transcritas por solicitação dos seus ouvintes;
  • os judeus tinham uma preferência pelo ensino oral;
  • há provas de que existiu um grupo catequizador, responsável em instruir os novos crentes, utilizando‑se deste método oral.

Assim, concluem os defensores desta hipótese, as semelhanças e diferenças entre as três narrativas sinóticas é decorrentes do fato de que seus escritores utilizaram‑se desta multiplicidade de pregações e ensinos disseminadas em diferentes lugares por vários grupos.

Não resta duvidas de que a tradição oral exerceu uma função importante para a pré‑história dos evangelhos. Todavia, são tremendas as dificuldades para se explicar o fato de que o evangelho foi preservado, com todas as suas múltiplas particularidades, por memória, por um período tão longo de tempo. E ainda mais, esta memorização tinha que ser feita tão rapidamente quanto o Evangelho se propagava por todo o mundo, criando‑se então uma necessidade urgente de traduzi‑lo para novos idiomas quase que simultaneamente. Por tudo isto, a tarefa de surpevisão deste trabalho seria impossível.

 

A Hipótese dos Dois Documentos ou Duas Fontes

 

Esta proposta tem alcançado larga aceitação nos últimos cem anos e seus aspectos mais importantes são:

  • 0 evangelho de Marcos foi de fato o primeiro a ser redigido e posteriormente utilizado pelos outros dois sinóticos corno fonte;

 

  • Mateus e Lucas utilizaram‑se também de uma segunda fonte, distinta

do evangelho de Marcos, que continha o registro de ditos de Jesus,

denominada de “lógia” e posteriormente de documente “Q”.

 

0 primeiro ponto desta hipótese pode ser facilmente percebido conforme os dados abaixo:

  • A estrutura dos evangelhos revela que Marcos deve ter servido de modelo aos dois outros sinóticos.
  • Mateus e Lucas divergem em suas história iniciais, mas coincidem depois, no relato sobre João Batista, que é o ponto de partida de Marcos. Repete‑se a mesma cousa no final, onde as semelhanças entre Mateus e Lucas vão até o ponto a que conduz Marcos 16:8, e depois cada um toma seu próprio caminho narrativo. Deduz‑se disto, que o Evangelho de Marcos lhes serviu como uma fonte referencial.
  • Nas seqüências das perícopes temos mais um reforço da primazia de Marcos. Quando Mateus abandona a ordem de Marcos, Lucas a utiliza; quando Lucas diverge de Marcos, é Mateus quem segue o mesmo caminho. E o mais importante é que Mateus e Lucas, em momento algum, concordam com seqüência diferente da que propõem Marcos.
  • Um outro argumento muito forte é o fato de quase a totalidade do material de Marcos estar contido em Mateus [ dos 661 vv. de Mc, 606 vv. (92%) se acham em Mt]; em Lucas encontraremos aproximadamente 350 vv. de Marcos [53%].
  • Em muitas ocasiões o registro de Marcos e ampliado ou explicado pelos outros dois evangelistas ( Mc.8:29 ‑ Mt.16:16 ‑ Lc.9:20 ‑aqui caracterizando um acréscimo ou comentário; Mc.15:39‑Mt.27:54‑Lc.23:47 ‑ enquanto Mateus altera por causa de reflexões teológicas [evitando chamar Jesus de “homem”], Lucas procura descrever a situação com maior exatidão do ponto de vista histórico [pois dificilmente um gentio poderia dar de imediato um testernunho cristão completo] )[14]

 

0 segundo ponto desta hipótese procura explicar o fato de que Mateus e Lucas compartilham aproximadamente uns 200 vv., que não são encontrados em Marcos, e que contém quase sem exceção palavras do Senhor. Esta segunda fonte é denominada de “Lógia” ou fonte “Q”.                                            :7 WZII5~~

 

Este termo “Logia” é derivado do testemunho de Papias ( escritor do princípio do segundo século), segundo o qual Mateus compusera a “Logia” em língua hebraica (aramaica).[15] 0 termo “lógia”, oráculos [de Deus], se refere mais a uma coleção de narrativas, declarações e ensinos, tais como aqueles apropriados pelos dois evangelistas.

A fonte “Q” [ do alemão “Quelle”‑ fonte] seria então esta “Logia” ao qual se refere Papias e de onde Mateus e Lucas extrairam muito do material não copilado por Marcos. Abaixo transcrevemos um quadro que indica o possível escopo desta fonte “Q”:

 

Mateus                                             Conteúdo                                                                            Lucas

 

1. 3:7‑12                                                  Pregação de João                                                    1. 3:7‑9,16

  1. 4:2‑11 As Tentações 2. 4:2‑13

3. 5:3‑6,11,12,39‑42,45‑58                  Sermão da Montanha I                                         3. 6:20‑23,27,30,32‑36

  1. 5:15; 6:22,23 Luz 15. 11:33‑35

5. 6:9‑13                                                  A Oração do Pai Nosso                                          10. 11:1‑4

  1. 6:25‑33, 19‑21 Ansiedade por Bens Materiais 18. 12:22‑34

7. 7:1‑5,16‑21,24‑27                             Sermão da Montanha II                                       4. 6:37,38,41‑49

  1. 7:7‑11 Acerca da Oração 1.1. 11:9‑13

9. 8:5‑13                                                  0 Centurião de Cafernaurn                                   5. 7:1‑10

  1. 8:19‑22 Natureza do Discipulado 7. 9:57‑60

11. 9:37‑10:11                                        Envio dos Setenta                                               8. 10:1‑12

  1. 10:26‑33 Exortação à Confissão                                17. 12:2‑10

13. 11:2‑19                                              A Pergunta de João                                             6. 7:18‑35

  1. 11:21,23,25,26 Gritos de Ais e Alegria 9. 10:13‑15,21,22

15. 12:22‑30                                           Beelzebu                                                            12. 11:14‑23

  1. 12:38‑42 Recusa de Dar Sinais 14. 11:29‑32

17. 12:43‑45                                           Retomo de Demônios                                         13. 11:24‑26

  1. 13:31‑33 Mostarda e Fermento 20. 13:18‑21

19. 23:4,23‑25,29‑36                            Contra os Fariseus                                               16. 11:39‑52

  1. 23:37,38 Lamentação sobre Jerusalém 21. 13:34,35

21. 24:26‑28,37‑41                                0 Tempo do Fim                                                   22. 17:22‑37

  1. 24:43‑51 Vigilância 19. 12:39‑46

23. 23:14‑30                                           Parábola dor, Talentos                                          23. 19:11‑28

 

A Teoria de Dois Documentos é a solução mais fácil e mais simples para o problema dos Sinóticos, pois ela fala em termos de documentos “escritos”. Todavia, há algumas questões que ela não responde satisfatoriamente:

 

  • Dos 1.068 versículos de Mateus, talvez cerca de 500 vieram de Marcos e em torno de 250 da “Q”; isto deixa cerca de 300 vv. não explicados.
  • Ern Lucas, com a mesma lógica, restam cerca de 580 vv. que não são encontrados nem em Marcos nem na “Q”.

 

Numa tentativa de se explicar estes pontos alguns argumentam que a fonte “Q” foi um documento muito maior que aqueles versículos encontrados em Mateus e Lucas, e que os autores, além de usar os versículos partilhados, escolheram os versículos peculiares ao seu Evangelho, dentre o restante deste documento. Mas esta explicação tem muito pouca aceitação nos dias atuais. A razão é que tal argumentação acaba por criar um documento desajeitado, e o vocabulário e a gramática do material não partilhado são diferentes para proporem uma mesma origem.

Uma outra dificuldade em relação ao documento “Q” é que aqueles estudiosos que tentam reconstituir positivamente as notas características da fonte “Q” não concordam entre si, o que demonstra sua fragilidade. Diversas são estas diferenças entre os críticos:

  • Em que época este documento “Q” foi elaborado (antes da morte de Jesus? Por volta do ano 50: de 60?).
  • Em que língua original foi escrita (aramaico ou grego?).
  • Quem foi seu autor (Mateus, um anônimo?)
  • Em que se fundamenta sua fidelidade histórica?
  • Qual era de fato seu conteúdo total (apenas sermões de Jesus ou também algumas narrativas?)

 

Diante de tantas questões e principalmente pelo fato de não haver nenhuma cópia deste documento “Q” torna‑se muito difícil coloca‑lo como um fato real, deixando‑o apenas como uma possível hipótese para se explicar esta questão dos Evangelhos Sinóticos.

 

CONCLUSÃO

 

Diante do que foi abordado acima podemos afirmar com certeza de que os escritores dos Evangelhos Sinóticos não tiveram uma única fonte “mestre” sobre a vida de Jesus.  Ao contrario, eles foram herdeiros de uma variedade de fontes, que se constituíam na mensagem do Evangelho proclamada no transcorrer de muitos anos.  O prefácio com que Lucas abre sua obra confirma que ao menos ele esteve atento para a diversidade de informações, orais e escritas sobre a vida de Jesus,  que existiam e eram de conhecimento público (Lc.1:1-4).

Ainda que não possamos inferir muitas cousas desta declaração, podemos ao menos inferir sobre o que ele não diz:

  • Ele não define exatamente quem foi os que lhe “transmitiram” estes fatos. Ele também não esta apenas copilando fatos históricos, mas seu objetivo é instruir o seu leitor sobre a “verdade”, neste contexto uma referência à mensagem do Evangelho que extrapolava as fronteiras da igreja primitiva.  Isto é facilmente perceptível uma vez que este era apenas o primeiro de dois volumes que seria concluído com Atos.
  • Ele também não diz precisamente como lhe “transmitiram” estes fatos. Isto abre possibilidade de que ele pudesse ter incluído material advindo de um ou dos dois outros Evangelhos (Marcos e Mateus).  Mas é igualmente possível que ele se referisse a uma ampla tradição oral que se tinha formado no seio da igreja primitiva.  Ou ainda há a possibilidade de que ele se referisse a uma combinação entre a tradição oral e documentos escritos.
  • Ele não define também o meio que utilizou para “ordenar” estes fatos. Apressadamente podemos concluir que ele o fez de forma cronológica, entretanto, a palavra grega por ele utilizada não nos permite esta conclusão – o termo grego apenas indica a idéia de algo que foi “copilado e/ou organizado” sem definir o método utilizado.  Isto indica que o escritor poderia utilizar o seu material conforme os seus objetivos pré-estabelecidos e não apenas dentro da rigidez cronológica dos acontecimentos.  Relacionando com as diferenças encontradas nos Evangelhos, podemos concluir que cada escritor organiza teologicamente este material em função da ênfase que deseja dar à sua mensagem, e não tanto uma preocupação cronológica.
  • Finalmente, o escritor não reivindica ser uma testemunha ocular dos eventos por ele relacionado. Ele diz que os fatos por ele utilizado tem origem em testemunhos oculares, ainda que mais uma vez não defina se foram as pessoas que presenciaram estes fatos ou que estas pessoas os haviam registrado e/ou documentado, mas não havia dúvida de sua parte de que as informações eram fidedignas.

 

Ainda que os demais sinóticos não forneçam detalhes sobre seu escrito, é razoável concluirmos que também trilharam o mesmo processo de Lucas.  Isto nos ajuda a compreendermos que os Evangelhos foram o resultado de um processo deliberado de preservar uma tradição já existente sobre a vida e ensino de Jesus, utilizado pela igreja iniciante.

Deste modo, os Evangelhos com toda a sua diversidade se constituem num testemunho fiel às fontes oculares.  Os objetivos preliminares proposto por cada escritor faz com que ele omita ou inclua material; coloque um dito dentro de um determinado contexto; acrescente comentários interpretativos; demonstrando não apenas uma criatividade em escrever, mas muito mais um aspecto teológico determinado.  O estudo cuidadoso destes recursos habilitarão o estudante sério das Escrituras a escutar e compreender o testemunho dos Sinóticos em um nível mais profundo.

Esta ênfase numa análise redacional que nos leva a esta questão dos Sinóticos também nos possibilita a vermos os vários pontos de vista da mensagem do Evangelho através de autores diferentes que foram norteados pelos seus aspectos teológicos pré estabelecidos, em vez de simplesmente serem conduzidos por uma tradição estática.  Eles não foram simplesmente editores ou copiladores que registraram os fatos sem emitirem nenhum comentário.  Eles desempenharam um papel ativo no esforço de trazerem a mensagem viva do Evangelho, dentro de um contexto determinado e com um propósito definido e provavelmente para um público especifico.

As palavras de Bratcher, conforme abaixo, expressão de forma sucinta este extraordinário trabalho realizado pelos evangelistas:

“Os escritores dos Evangelhos não mudaram a verdade básica da tradição em seu testemunho de Jesus como o Cristo e revelação Pessoal de Deus.  Mas eles trataram sua mensagem como uma tradição viva que podia ser aplicada e reaplicada na vida da comunidade da Fé para chamar pessoas a uma resposta fiel àquela revelação e a Deus.  Esta deve ser a maior contribuição que podemos tirar do estudo do Problema dos Sinóticos, porque em última instância esta também continua sendo a nossa tarefa hoje e deve se constituir também no propósito pelo qual devemos continuar a estudar a Sagrada Escritura.”[16]

 

[1]“0 termo grego [ Euaggeélion ], que se traduz por «evangelho», provém do grego profano. Significava, por exemplo, em Homero e Plutarco, a recompensa dada ao mensageiro por sua mensagem; ou, no plural, as ofertas de ações de graça aos deuses por uma boa nova. Por extensão, veio a designar, em Aristófano por exemplo, a mensagem propriamente dita, e depois, o conteúdo da mensagem, a boa nova anunciada. Assim o aniversário do imperador Augusto, chamado deus e salvador, foi festejado como «o começo, para o mundo, das boas novas, que ele trazia.» A tradução grega do Antigo Testamento, chamada Setenta (Septuaginta), emprega esta palavra também para assinalar mensagens felizes. Entre os cristãos primitivos, o euaggélion, é primeiramente a boa nova da salvação realizada em Jesus Cristo, tal qual é anunciada oralmente pelos apóstolos. Somente mais tarde, o termo se aplica à forma escrita desta boa nova apostólica. Enfim, chega a designar (por volta de 150 d.C.) aqueles escritos do Novo testamento que contam mais precisamente a vida terrestre de Jesus Cristo. E é neste sentido que se fala dos quatro evangelhos e que se chamam de evangelistas os autores aos quais são atribuídos: Mateus. Marcos, Lucas e João.”  Oscar Cullmann, A Formação do Novo Testamento, Ed. Sinodal, São Leopoldo, 1979, pp. 19-20.

[2] J. Greshem Machen, op. cit, p. 17.

 

[3] “A palavra sinótico (synoptico) vem do grego synoptikós de svnopsis (svn, com + ópsis, visão) e significa ‘o que tem a mesma visão, ou perspectiva’. Realmente, a designação (Evangelhos) Sinóticos se originou do fato, em 1776, Griesbach dar o nome de sinopse a uma publicação do texto paralelo dos três primeiros Evangelhos.” MIRANDA. 0 A, Estudos Introdutórios dos Evangelhos Sinóticos. ed. Cultura Cristã. São Pauloo. 1989, p.4 1.  Wallace é taxativo: “Qualquer discussão séria dos Evangelhos Sinóticos devem, mais cedo ou mais tarde, envolver uma discussão da interrelação literária entre Mateus, Marcos e Lucas.  Isto é essencial para que se veja como cada autor utilizou-se das suas fontes, bem como quando ele escreveu.”  Daniel B. Wallace, O Problema dos Sinóticos, wallece@bible.org.

[4]Tal problema não preocupou muito os antigos e medievais, com exceção talvez de S. Agostinho (+430) na sua obra ‘De Consensu Evangelistarum’ … A questão sinóptica data, pode‑se dizer. de fins do século XVIII; desde então os críticos a têm estudado com afinco, dando à luz uma bibliografia sobre o assunto que hoje é vastíssima. BETTENCORT, Estevão.  Para Entender os Evangelhos, Livraria Agir Editora. Rio de Janeiro, 1960. p. 187.

[5]RUSSELL, N. C. ‑ 0 Novo Testamento Interpretado. ed. 5″. v. 1, Milenium, São Pauloo, 1985. p. 174.

[6] No início de 1913, o Pe. Prat contava mais de cem teorias arquitectadas para explicar o ‘caso sinótico’ e acrescentava: ‘Se o problema sinótico ainda não foi resolvido, isto se dá certamente porque é insolúvel’ (La question synoptique), em Etudes 134 [1913] 350.). BITTENCORT, E. op. cit.. p. 191 “Nota”.  Certamente este número cresceu muito desde então, mas cremos, que à luz da exegese contemporânea. podemos encontrar algumas explicações satisfatórias quanto à questão sinótica, embora não sejamos esclarecidos sobre todas as suas múltiplas particularidades.

[7]“A tal esquema Mateus e Lucas antepõem episódios da infância de Jesus. os quais. pelo seu estilo e o seu sabor, constituem evidentemente blocos literários independentes do corpo da narrativa.” Estevão Bittencourt, Para Entender os Evangelhos, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1960,  p. 186.

[8] “No evangelho de João, em contraposição, Galiléia e Jerusalém alternam‑se várias vezes como cenário dos acontecimentos, os quais parecem estender‑se por um período de cerca de três anos.”  [          ]

[9] BETTENCOURT, op. cit., p. 187.

[10] Nos prínieiros séculos tinha como pensamento comum a idéia de que os Evangelhos haviam surgido independentemente um do outro. Somente em meados do quarto século levantou‑se o fato de que os Sinópticos eram, de alguma fornia, interdependentes.

[11] “Assim, em sua obra The Harmony of the GospeIs 1. ii. 4, (La armonía de los Evangelios), Augustín, después de hacer algunos comentários sobre Mateo, dice: ‘ Marcos lo sigue estrechamente, y parece ser su acompanãnte y abreviador’.” HENDRIKSEN, Guillermo. EL EVANGELHO SEGUNTO SAN MATEO ‑ Comentário del Nuevo Testamento. Subcomisión. Literatura Cristiana, EE. UU., 1986, p.4 1. “Deve ser lembrado que este conceito surgiu porque Agostinho estava cônscio de que o Evangelho de Mateus era bem conhecido no segundo século e era sempre listado em primeiro lugar, em toda lista dos livros do Novo Testamento.” HALE, Broadus David. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO NOVO TESTAMENTO. JUERP, Rio de Janeiro, 1983, p.56.

[12] “Teoricamente há seis possíveis variações desta hipótese. Os vários defensores de cada unia destas variações, baseia-se na ordem cronológica dos três sinóticos (quem escreveu primeiro?). Todavia, apenas três opiniões demonstram capacidade de sustentação: A seqüência aceita por Agostinho [Mateus Marcos ‑ Lucas] conforme exposto acima; A hipótese da seqüência [Mateus ‑ Lucas ‑ Marcos] onde Marcos é totalmente dependente de Mateus e Lucas, enquanto os dois últimos são totalmente independentes um do outro; A terceira seqüência seria Marcos‑Mateus e Marcos‑Lucas, onde evidência‑se a predominância de Marcos sobre os outros dois evangelistas.

 

[13] “Um outro fator a considerar na solução do problema sinótico é a pregação oral da primitividade cristã.  Antes dos Evangelhos serem escritos, a vida de Jesus era o âmago da pregação apostólica, como se vê no sermão de Pedro no dia de Pentecostes (At.2:22-32), no sermão na casa de Cornélio (10:36-43) e no sermão de Pauloo em Antioquia da Pisídia (13:23-33).  Os sinotistas não podiam ignorar esta tradição oral, como se lhe costuma chamar.”  Merrill C. Tenney,  O Novo Testamento – Sua Origem e Análise, 2 ed., Edições Vida Nova, São Pauloo, 1972, p.209.

[14] Assim coloca Hendriksen: “Por lo tanto, el punto que hay que notar es este: Marcos parece ser “el hombre del medio”. Cuando Lucas se aparta de él, Mateo generalmente permanece com él; cuando Mateo se aparte, Lucas casi siempre queda a su lado.” HENDRIKSEN, G. op. cit., p.48.

 

[15] “Mateus confeccionou a Logia no hebraico (aramaico), e cada leitor a interpretou conforme a sua capacidade” PAPIAS, História Eclesiástica, III: xxxix, 16.

 

[16]Dennis Bratcher,  Os Evangelhos e o Problema dos Sinóticos, @eletrônico.

Panorama do Novo Testamento – Evidências Literárias

 

A N E X O 1

Autoridade

Data d.C.

Evidências Literárias do Desenvolvimento do Cânon do N.T. Livros do Cânon N.T. e como foram aceitos

Clemente de Roma

95-97 Citação ou Alusão: Mt, Jo, Ef, 1Tm, Tt, Hb, Tg, 2Pe. Dado como autentico: 1Co.

Inácio

110 7 cartas com citações e alusões ao cristianismo conforme escrito na sagrada escritura. Não há citações nominais dos livros bíblicos. Citação ou Alusão: Ef, Fl, Cl, 1Ts, 2Ts e Fm.

Policarpo

110 1 carta com 100 citações e alusões ao Cristão conforme escrito na sagrada escritura. Não há citações nominais dos livros bíblicos. Citação ou Alusão a quase todos os livros canônicos com exceção de : 2Tm, Tt, Fl, Hb, Tg, 2Pe, 3Jo, Jd e Ap.

Hermas

115 Citação ou Alusão: Mt, Mc, At, 1Co, 2Co, Fl, 1Ts, 1Tm, 2Tm, Hb, Tg, 1Pe, 1Jo e Ap.

Didaquê

120-150 Citação ou Alusão: Mt, Lc, Rm, 1Co, 1Ts, 1Tm e Ap.

Papias

130 Cita ou alude apenas Jo e autentica o Ap.

 

Marcião

140 Coleção do “Novo Testamento” elaborada por uma seita. Com apenas um Evangelho, o de segundo Lucas. Autenticam apenas: Lc, Rm, 1Co, 2Co, Gl, Ef, Fl, Cl, 1Ts, 2Ts e Fm.

Justino Mártir

160 Muitos de seus escritos sobreviveram; ele foi o escritor Cristão mais polífero de seu tempo. Citação ou Alusão: Mt, Mc, Lc, At, 1Co, 2Co, Gl, Ef, Cl, 1Ts, 2Ts, 1Pe e Ap. Autentica: Jo.
Diatessaron, de Taciano      170 Tradução Autenticação do 4 Evangelhos.

Ireneu

130 a 202 Dois de seus escritos, sobreviveram em traduções (Latino e Armeniano.) Há citações e alusões ao Cristianismo conforme registrado na sagrada escritura e citações nominais dos respectivos livros. Somente não cita, alude ou autentica: Fm, Tg, 2Pe e 3Jo.
Clemente de Alexandria 200 Muitos de seus escritos sobreviveram; neles estão contidas 8.000 citações – acima de 1/3 deles de fontes pagãs. Há citações nominais dos livros bíblicos. Somente não cita, alude ou autentica: 2Tm, Fm, Tg, 2Pe, 2jo e 3Jo.

Antiga Latina

200 Constituiu um dos mais valiosos testemunhos documentais das condições do Novo Testamento no Ocidente. Autentica todos os livros com exceção de: Hb, Tg, 1Pe e 2Pe.

Tertuliano

210 Tertuliano foi o escritor mais prolífero dos “Pais Latinos” do período pré-nicense (antes de 625 d.C.). Há citações nominais dos livros bíblicos. Cita ou alude a quase todos os livros com exceção: Fm, Tg, 2Pe, 2Jo, 3Jo.

Cânon de Muratório

300 Um manuscrito descoberto na Biblioteca Ambrosiano de Milão com um catálogo (em latim) de Novo Testamento escrito com comentários. Autentica quase todos os livros com exceção: Hb, Tg, 1Pe e 2Pe.

Origines

350 Somente uma pequena parte de seus escritos sobreviveram, mas constitui de muitos volumes. Há citações nominais dos livros bíblicos. Cita, alude e autentica quase todos os livros com exceção: Fm, Tg, 1Jo, Jd, e coloca como polêmico: Hb, 2Pe e 3Jo.

Nicéia

325-340 Concilio Autentica quase todos os livros, polemizando apenas: Tg, 2Pe, 2Jo, 3Jo e Jd.
Eusébio 330 Muito dos trabalhos de Eusébio sobreviveram, mas aqui nós unicamente usamos sua formosa classificação. Autentica quase todos os livros polemizando apenas: Tg, 2Pe, 3Jo e Jd.

Codex Sintático

350 Um manuscrito descoberto em 1859 contendo um Novo Testamento do 4º século.

Autentica todos os livros

Cânon de Atanásio

367 Sua Epistola da 39º Páscoa de 367 d.C. contém uma lista dos livros canônicos.

Autentica todos os livros

Hipo

393 Concilio

Autentica todos os livros

Cartago

397 Concilio

Autentica todos os livros

Jerônimo

340-420

Autentica todos os livros

Agostinho 400

Autentica todos os livros

Antiga siríaca

400 Tradução Autentica quase todos os livros com exceção: 2Pe, 2Jo, 3Jo, Jd e Ap.

Cartago

419 Concilio

Autentica todos os livros

Vulgata Latina

400 É uma revisão do texto da Antiga latina. Uma série de manuscritos (acima de 10.000) da Bíblia em Latim, cujo Novo Testamento coincide (mais ou menos) com o presente.

Autentica todos os livros

 

Panorama do Novo Testamento – Contexto Religioso Judaico

 biblia

INTRODUÇÃO AO SEGUNDO TESTAMENTO

  1. Ivan Pereira Guedes[1]

 

Contexto Religioso Judaico

Como bem destacou Tenney a religião monoteísta judaica [2] resplandecia em meio às tensas trevas do paganismo romano. O numero de prosélitos, estrangeiros que adotavam a religião judaica, se multiplicava grandemente e o apostolo Paulo vai saber como ninguém se aproveitar desta situação em seu trabalho missionário.

Longe de ser uma religião compacta, no judaísmo encontramos a velha tendência humana do sectarismo. Porém, consegue manter uma espinha dorsal, uma vez que todas as suas facções mantêm um compromisso com a Lei. Assim, as diferenças entre os grupos iam do liberalismo ao racionalismo, e do misticismo ao oportunismo político.[qualquer semelhança com o evangelismo brasileiro atual não é mera semelhança].

Abaixo mencionamos alguns destes grupos religiosos judaicos e suas características:

Os Saduceus

Menos numerosos que os fariseus;

Este grupo era intimamente ligado ao Templo e ao Sacerdote. Alguns fazem uma associação com o Sumo Sacerdote “Zadoque” ainda nos dias de Davi (2 Sm 8.17; 15.24) e Salomão (1 Rs 1,34,35; 1 Cr 12.28). O profeta Ezequiel atesta sua linhagem sacerdotal (Ez 40,46; 43,19; 44,10-15). Assim o grupo era visto como o partido dos Sumos Sacerdotes e das famílias aristocráticas, entretanto, nem todos os sacerdotes eram saduceus.

Exerciam poder político; apoiavam os governantes hasmoneanos (Herodes). Através do Sinédrio exerciam o poder político e assimilaram a cultura helenista e por esta razão contavam com a simpatia das autoridades romanas. Por outro lado, enfrentavam feroz e violenta oposição dos fariseus e zelotes.

Eram mais conservadores e optavam por uma interpretação literal da Torah (lei de Moisés) e rejeitavam a lei oral ou tradição;

Enfatizavam a importância fundamental do Templo e todo o sistema sacrificial, pois era sua base política e fonte econômica (os mercadores do Templo pagam taxas aos sacerdotes).

Negavam a existência de anjos, espírito e a ressurreição (At. 23.6-10) e desconsideravam a interferência de Deus nas atividades humanas (nossos deístas atuais).

Associam-se ao fariseus e zelotes em oposição a Jesus e depois à Igreja unicamente por que anteviam um prejuízo econômico e político. Os apóstolos foram ameaçados de morte e posteriormente Estevão foi apedrejado por ordem do Sinédrio cuja maioria era saduceus.

Desapareceram do cenário após a destruição do Templo em 70 d.C.

Os Fariseus

É possível que o nome seja derivado da expressão hebraica que significa “ser separado”, no caso, das práticas e conceitos pagãos.

Surgiram durante o período do segundo Templo (516-570 a.C.), provavelmente adquiriu maior prestigio ou visibilidade após a rebelião dos Macabeus (165-160 a.C.).

Era a maior seita e a de maior influência nos dias de Jesus e no período dos Atos dos Apóstolos;

Mantinham um conflito permanente com os Sacerdotes (apoiados pelos Saduceus) e conseguiram tirar várias cerimônias do Templo e começaram a realizá-las nos lares.

Aceitavam o cânon completo do Antigo Testamento e o interpretava de forma alegórica;

Davam muita importância à lei oral ou tradição que defendiam como sendo parte da revelação de Deus a Moisés;

Ensinavam que Deus fez o ser humano com a tendência tanto para o bem como para o mal e ele deveria fazer sua própria escolha; mas Deus ajudava o povo a fazer o bem;

Acreditavam em anjos e outros espíritos, na imortalidade da alma e na ressurreição;

Apesar de duramente criticados por Jesus, por seus excessos e hipocrisia (Mt 23.5,23ss; Lc 18.1ss), o apostolo Paulo defende sua herança como fariseu (At 22) e há muitos pontos de convergência entre as convicções teológicas dos fariseus e as doutrinas da igreja primitiva.

Os judeus ortodoxos ainda preservam muito das idéias e doutrinas dos fariseus.

 

Os Essênios

Tem suas origens ainda nos dias dos Macabeus (aprox. século II-70 d.C.)

Fraternidade ascética – semelhante ao monasticismo; alguns viviam em Qumran, ondeforam encontrados os rolos do mar Morto. Cerca de quatro mil deles estavam espalhados pelas regiões da Judéia.

Eram mais radicais do que os fariseus; ascetas abstinham-se do casamento; observavam rigorosamente as leis sobre os banhos cerimônias e orações diárias; defendiam a propriedade em comum (conceito assimilado pelos primeiros cristãos); cultivavam uma visão profundamente apocalíptica e se consideram os remanescentes da mensagem e promessas proféticas; opunham-se totalmente ao culto do Templo por entenderem que estava totalmente corrompido;

Cada um se sustentava a si próprio  e valorizavam o trabalho manual;

Muitos desejam ligar João Batista a este grupo. Não há indícios atualmente deles.

Os Zelotes

Alguns remotam sua origem aos macabeus, mas a maioria prefere uma data próxima do ano 37 a.C. e desapareceram por motivos obvio após a destruição do Templo em 70 d.C.

Receberam este nome por sua oposição sistemática a todo e qualquer vestígio do domínio romano na Palestina; recusavam-se a pagar impostos (provavelmente os adversários de Jesus queriam ligá-lo aos zelotes quando o provocaram com a questão do tributo) e aterrorizavam os dominadores romanos; odiavam os saduceus.

Eram fanáticos e levavam às últimas conseqüências suas concepções teológicas (certamente derrubariam, se houvesse as duas Torres dos romanos).

Um dos doze chamados por Jesus, Simão, é associado a este grupo (Lc 6,15; At 1,13). Por razões óbvias desapareceram após a destruição de Jerusalém em 70 d.C.

Além destes grupos religiosos, havia também outros grupos e instituições que compõe o quadro religioso judaico no período do Novo Testamento:

 

Os Herodianos

Evidentemente que surgem com a efetivação da dinastia Herodiana na Palestina.

Não eram um grupo religioso

Apoiavam integralmente a dinastia Herodiana; assimilaram totalmente a cultura helenista; aceitavam passivamente o domínio romano; provavelmente eram ricos e tinham grande influência política. [estariam muito à vontade no seio evangélico brasileiro].

Também apoiaram a oposição contra Jesus (Mt 22.16; Mc 3.6; 12,13).

Tinham um sub grupo mais belicoso chamado de “Sicários” que significa “homens da adaga”, pois apunhalavam pelas costas aqueles que consideravam amigos de Roma. Estiveram envolvidos diretamente na revolta que culminou com a destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos. São mencionados uma única vez em Atos 21,38 e classificados como “terroristas”. [não há nada novo debaixo do sol].

Os Escribas

Por causa da grande dispersão dos judeus criou-se a necessidade de se ter muitos exemplares da lei, já que cada congregação necessitava de uma cópia da lei. Os escribas eram estes copistas profissionais e tornaram-se peritos no estudo do texto sacro. Estavam em igualdade com os sacerdotes nos assuntos religiosos.

 

O Sinédrio

Do hebraico “Sanhedrim” (Assembléia). Era o supremo concílio dos judeus. Os judeus da diáspora o chamavam “Guerusia ou ainda Sinédrio”. Equivalia ao Senado dos gregos e romanos. Decidia acerca da matéria legal e religiosa. Era presidido pelo Sumo Sacerdote em função. Alguns querem retrocedô-lo aos dias de Moisés ou Esdras, mas com certeza é fruto dos dias dos Hasmoneus (Macabeus – segundo século a.C.), terminando sua história em 66 d.C. Tinha mais ou menos poder dependendo do Governante de plantão. O número de membros era de 70 , comumente escolhido entre os eruditos e representantes das várias facções religosas.

As Sinagogas

Palavra grega que significa “convocação ou assembléia”. Era lugar onde se celebra culto religioso. É provável que tenha se iniciado no período do cativeiro babiblônico, como substitutivo do Templo, ou talvez como imediata necessidade para os exilados se reencontrarem. Introduzida por Esdras na Palestina, logo se difundiu por todo Israel. Desde o século I da era cristã há noticias da existência de sinagogas nos lugares onde havia judeus fora da Palestina. Os homens da congregação, em numero indeterminado, se reuniam a cada sábado para adoração e no segundo e quinto dia da semana para ouvir a leitura das Escrituras. Qualquer pessoa podia entrar numa sinagoga e a qualquer tempo, o que atraiu um numero crescente de prosélitos, principálmente fora de Israel.Nos dias de Jesus era muito popular e tornou-se o ponto de referência para o trabalho missionário de Paulo.

 

NOTAS E BIBLIOGRAFIA

[1] TENNEY, Merrill C. Tempos do Novo Testamento, Eerdmans. Rapids Grande, 1965, pp. 107-108. Temos em português uma excelente obra de MERRIL C. TERRILL, O Novo Testamento – Sua Origem e Analise, Vida Nova, São Paulo, 1972. Nesta obra ele aborda detalhadamente estes aspectos aqui resumidamente citados.

[2] GUNDRY, Robert H.. Panorama do Novo Testamento. Vida Nova: São Paulo, 1981, p.111.

[3] HOUSE, H. Wayne. O Novo Testamento em Quadros, ed. Vida, 2ª edição, 2000.

PACKER, J. I. O Mundo do Novo Testamento, ed Vida, 1988, p. 80 ss.

RUSSEL, David S. Entre o Antigo e o Novo Testamento, ed. Abba, 2005, pp.49-55.

 

[1] Formação Acadêmica: Mestre em Ciências da Religião (Univ. Mackenzie); Especialização em História do Cristianismo (Univ. Metodista Piracicaba);  Bacharel em Teologia (Seminário Presbiteriano SP); Bacharel em Ciências Contábeis (Univ. Cruzeiro do Sul).

Panorama do Novo Testamento

biblia

INTRODUÇÃO AO SEGUNDO TESTAMENTO

  1. Ivan Pereira Guedes[1]

 

Prólogo

 

Há, certamente, vários métodos para efetuarmos um estudo da Bíblia, entre os quais temos:

  • Sintético — um estudo panorâmico da Bíblia, de modo a adquirirmos uma visão global da sua mensagem.[2]
  • Analítico — um estudo da Bíblia onde se analisa pericope por pericope a fim de se obter uma compreensão mais profunda do texto.[3]
  • Doutrinário ou Teológico — um estudo da Bíblia segundo seus muitos tópicos e doutrinas que estão explicitas ou implícitas em seus textos.[4]
  • Histórico — um estudo da Bíblia levando em consideração o seu contexto histórico.[5]

O sintético ou panorâmico atende adequadamente ao estudante iniciante. Através desta aproximação sintética, seremos  capazes de contemplarmos  a floresta inteira, de modo que mais tarde poderemos explora-la em toda as suas variedades e particularidades.

 

INTRODUÇÃO GERAL AO SEGUNDO TESTAMENTO

 

O Segundo Testamento é um registro de eventos históricos. Estes eventos estão centralizados na pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo — sua vida, morte, ressurreição, ascensão, e a continuação de sua obra no mundo — em que também consiste toda a estrutura e propósito do Antigo Testamento. Além disso, é o registro fidedigno da história sacra, que se distingui  nitidamente da história secular, pois cremos que foi escrita sob a orientação sobrenatural do Espírito Santo. Por esta razão tanto o Velho como o Segundo Testamento estão protegidos de erro humano e possui autoridade divina para igreja hoje e por todo a história humana até que o Senhor Jesus Cristo venha.

 

<!—->Origem e Significado do Termo “Segundo Testamento”[6]

 

Nossa Bíblia é dividida em duas seções que chamamos de Velho Testamento e o Segundo Testamento, mas qual a razão desta divisão? A palavra Grega para “testamento,” {diahgjg}(Latim, testamentum), significa “vontade, convênio, pacto ou aliança.” Mas em conexão com o contexto das Escrituras “Pacto ou Aliança” seria uma melhor tradução.  O termo Segundo Testamento, aponta para aquele novo relacionamento dentro do qual os homens podem ser recebidos por Deus. O Velho Testamento ou Pacto é primeiramente um registro da maneira como Deus se relacionou com os Israelitas, regido pelo Pacto estabelecido com Moisés no Monte Sinai. O Segundo Testamento ou Pacto (antecipado no Jeremias 31:31 e instituído pelo Senhor Jesus, 1 Cor. 11:25), descreve a nova base que Deus estabeleceu para se relacionar, não mais com Israel somente, mas com todos os homens, de toda tribo, língua e nação,  que foi ratificada em Cristo no Calvário.[7]

Os nomes Pactos Novo e Velho foram assim aplicados primeiro às duas formas com que Deus estabeleceu se relacionar com os homens, e então, aos livros que continham o registro destes dois relacionamentos. “O Segundo Testamento é o registro divino dos termos pelos quais Deus tem recebido nós rebeldes e inimigos dentro da sua paz.”[8] <!—->CONTEXTOCON

CONTEXTO DO SEGUNDO TESTAMENTO

 

No tempo do Segundo Testamento, Roma foi a força dominante do mundo  e controlava praticamente todo o mundo antigo. Mas em uma pequena cidade na Palestina, na pequena e quase imperceptível cidade de Belém da Judéia, nasceu um que haveria de mudar o mundo e destronar o grande César romano. E concernente a esta Pessoa o apostolo Paulo escreveu, “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,  (ou Velho Pacto).” (Gal.4:7). De forma extraordinariamente  maravilhosa e especial, Deus tinha preparado o mundo para a  vinda do Messias. Vários fatores contribuídos para esta preparação: [9]

  • Preparação Através da Nação Judaica

A preparação para a vinda de Cristo é a linha histórica que estabelece a unidade de todos os acontecimentos e da mensagem registrada no Velho Testamento. Os Judeus foram escolhidos por Deus de entre todas  as nações para ser um povo de exclusividade de Deus, um reino de sacerdotes, e uma nação santa (Ex. 1:5-6). A revelação deste propósito divino, inicia-se com as promessas de Deus dado aos patriarcas, Abraão, Isaque, e Jacó (Gen. 12:1-3; Rom. 9:4).  Deste modo, o povo israelita tornaram-se os curadores da Palavra de Deus (Velho Testamento [Rom. 3:2]), e o canal pelo haveria de vir o Redentor (Gen. 12:3; Rom. 9:5). O tema central do Velho Testamento, portanto, é Cristo, e aponta para  Sua vinda como aquele que através de seu sofrimento e glorificação, se constituiria no  Salvador e Senhor de seu povo. Além Disso, as profecias, ainda que não em grande quantidade, mas extremamente qualificativas, precisa com detalhes perfeitos: a linhagem Messiânica; o local de seu nascimento; as condições e particularidades da sua vida, morte, e até mesmo da sua  ressurreição.[10]

Embora Israel esteve desobediente e foi levada para o Cativeiro, como julgamento de Deus,  por causa da  dureza de seus corações, Ele contudo preservou e trouxe de volta, após setenta anos,  os remanescentes para sua terra natal, como Ele tinha prometido.  Tudo isto Deus fez para que se cumprisse o Seu propósito original de preparação para a  vinda do Messias. Embora quatrocentos anos tinham se passado  depois do registro do último livro de Velho Testamento, e embora o clima religioso fosse de um Farisaísmo  externo e hipócrita, havia um espírito de antecipação Messiânica no ar e os remanescentes fiéis aguardavam com ardente expectativa o Messias.[11]

 

  • Preparação Através da Língua Grega

Se reveste de grande importância e significado que quando Cristo, que seria o Salvador do mundo e  que haveria de enviar Seus discípulos até aos fins da terra para proclamar o Seu evangelho (Mat. 28:19-20), nasceu exatamente no tempo em que havia um idioma dominante no mundo. Isto foi o resultado das conquistas e aspirações de Alexandre o Grande, o filho de Filipe o Rei da Macedônia, que mais de 300 anos antes do nascimento de Cristo, havia varrido o mundo antigo conquistando uma nação depois outra. Seu desejo era um mundo e uma língua. No rastro de suas vitórias, ele estabeleceu a língua Grega como a língua comum, e a cultura Grega como o modelo de pensamento e vida. Embora seu império foi breve, o resultado de espalhar a língua Grega foi amplamente satisfatório.[12]

O ponto aqui é que Deus providencialmente foi preparando o mundo para uma língua comum e que se constituiu em um veículo incomparável de comunicação para proclamar com clareza  e precisão a mensagem do Salvador. Como resultado direto, os livros do Segundo Testamento foram escrito na língua comum do povo, o Grego Koinê. Ele não foi escrito no Hebraico ou Aramaico, ainda que todos os escritores do Segundo Testamento fossem Judeus, exceto Lucas, que era um Gentio. O Grego Koinê tinha tornado-se a segunda língua de quase todos.[13]

 

  • Preparação Através dos Romanos

Deus continua preparando o mundo para a vinda do  Salvador do mundo. Quando Cristo nasceu na Palestina, Roma dominava o mundo. A Palestina estava debaixo do domínio romano e sujeita às suas leis.  A guerra civil  mais longa e ensangüentada, da Romana tinha finalmente terminada com o reinado de Augustos César. Como resultado, Roma tinha ampliado vastamente seus limites. Além disso, os romanos construíram um sistema de estradas, que, com a proteção fornecida por seu exército, freqüentemente patrulhando as estradas, contribuiu para a intensificação do  fluxo de viajantes que cruzavam todo o império Romano. Augustos foi o primeiro Romano a usar o cetro imperial como o único governante do Império. Ele foi um moderado, sábio e tinha consideração pelos seus semelhantes, e ele trouxe um grande período de paz e prosperidade, fazendo de Roma um lugar seguro para se viver e viajar. Isto introduziu um período chamado “Pax Romana,” a Paz Roma (27 a.C.– d.C. 180)[14]. E por causa de tudo que Augusto realizou, dizia-se que quando ele nasceu, um deus nasceu. Foi neste contexto histórico que nasceu aquele que se constitui na duradoura e verdadeira fonte de paz pessoal e do mundo, em contrataste com a paz falsa e temporária que os homens podem produzir. Cristo é verdadeiramente Deus, o Deus-homem, ao invés de um homem chamado deus. A presença da ordem e lei Romana preparava o mundo para a Sua vinda e para a propagação de Seu evangelho.

Marcos 1:14-15. Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia pregando o Evangelho de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus.  Arrependei-vos, e crede no evangelho.

 

  • <!—->O Mundo Religioso no Tempo do Segundo Testamento

É necessário, antes de adentrar ao estudo do Segundo Testamento, adquirir-se uma visão geral do mundo religioso dos dias em que o Salvador entrou em cena e para o qual a igreja foi enviada a proclamar sua mensagem. Como se pode ver na citação de  Tenney, nota-se uma grande semelhança com os nossos dias de hoje. A mensagem do Salvador como revelado no Segundo Testamento é como respirar ar fresco depois de se estar asfixiado pela intensa poluição produzida por este mundo depravado.

“A igreja Cristã nasceu dentro um mundo cheio de religiões que apesar das muitas diferenças entre elas, possuíam uma característica comum – o esforço para alcançar um deus, um deus que permanecia essencialmente inacessível. À parte do Judaísmo, que ensinava que Deus tinha voluntariamente Se revelado aos patriarcas, a Moisés, e aos profetas, não havia religião que falasse com certeza da revelação divina nem de qualquer conceito verdadeiro de pecado e salvação. Os padrões éticos correntes eram superficiais, não obstante o ideal e visão possuída por alguns filósofos, e quando eles discursavam sobre o mau e bem, eles não apresentavam  nenhuma solução ou mesmo possibilidades de que um remédio pudesse ser encontrado.  Até mesmo no Judaísmo a verdade tinha estado obscurecida pela formação de uma crosta de tradições ou negligenciam … O paganismo e todas religiões à parte do conhecimento e fé da Palavra de Deus sempre produziu uma paródia e uma perversão da  revelação original de Deus ao homem. Isto retém muitos elementos básicos da verdade mas eles são distorcidos na prática. Soberania Divina torna-se fatalismo; graça torna-se indulgência; justiça torna-se conformidade com regras arbitrárias; adoração  torna-se ritual vazio; oração torna-se pedidos egoísta; os acontecimentos sobrenaturais tornam-se superstição. A luz de Deus é obscurecida  por lenda imaginária e por falsidade sincera. A conseqüente confusão de crenças e de valores desnorteava as pessoas que vagueavam por um labirinto de incertezas. Para alguns, a conveniência era a filosofia de vida predominante; como não há nenhuma certeza final, também não há  princípios permanentes  para balizar a conduta; e se não há princípios permanentes, cada um vivera ao sabor da  vantagem do momento. Prevalecia o ceticismo, os velhos deuses tinham perdido sua força e nenhum novo deus tinha aparecido. Cultos particulares e/ou familiares predominavam, utilizado superficialmente pêlos ricos, mas deixava o pobre em seu desespero. As pessoas tinham perdido completamente o prazer e o objetivo que torna a vida humana algo que vale a pena ser vivida.[15]

<!—->Composição e Arranjo do Segundo Testamento

O Segundo Testamento é composto de vinte e sete livros escritos por nove autores diferentes. Baseado em suas características literárias, eles estão freqüentemente classificado dentro de três grupos:

  1. O histórico (5 livros, os Evangelhos e Atos)
  2. O epistolar (21 livros, Romanos até Judas)
  3. O profético (um livro, Apocalipse).

Os dois gráficos abaixo ilustram a divisão e enfoca esta classificação tripla dos livros do Segundo Testamento.

 

RESUMO PANORÂMICO

Histórico  Os Evangelhos:Mateus, Marcos,    Lucas, João Manifestação:Registram a história da vinda do Salvador e Sua pessoa e obra.
AtosOs Atos do Espírito Sagrado através dos apóstolos Propagação:Proclamação da mensagem do Salvador que veio.
Epistolar Cartas:Correspondência para igrejas e indivíduos.

Romanos até  Judas

Explicação:Desenvolvendo o significado e  da pessoa e obra de Cristo e como isto deveria afetar o viver do Cristão no mundo.
Profético Apocalipse

A Revelação de Jesus

Cristo o Senhor

Consumação:Antecipando os eventos do fim dos tempos e a volta do Senhor, Seu reinado eterno , e o estado final dos salvos.

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A Ordem<!—->AA   dos Livros do Segundo Testamento

Como visto na classificação anterior, a ordem em que os livros do Segundo Testamento foram arranjados é lógica em vez de cronológica. Como Ryrie explica:

Primeiro vem os Evangelhos, que registram a vida de Cristo; então Atos, que dão a história da expansão do Cristianismo; então as epistolas, que mostram o desenvolvimento das doutrinas da igreja junto com seus problemas; e finalmente a visão da segunda vinda de Cristo no Apocalipse.[16]

Embora estudiosos da Bíblia diferem na data exata em que os livros do Segundo Testamento foram escritos, a ordem cronológica da elaboração dos livros pode aproximadamente ser como segue:

 

Livro Data (d.C. ) Livro Data (d.C. )
Tiago
Gálatas
1e 2 Tessalonicenses
Marcos
Mateus                   1 Coríntios
2 Coríntios
Romanos
Lucas
Atos
Colossenses, Efésios
45-49
4951
50s ou 60s
50s ou 60s
55
56
57-58
60
61
60-61

60-61

Filipenses   Filemom
1 Pedro
1 Timóteo
Tito
Hebreus
2 Pedro
2 Timóteo
Judas
João [evangelho]
1, 2, 3 João
Apocalipse
63
63-64
63-66
63-66
64-68
66
67
68-80
85-90
85-90
90-9595</TBODY>

 

<!—->A Canonicidade[17] dos Livros do Segundo Testamento

Originalmente, os livros do Segundo Testamento estiveram circulando separados e individualmente[18].  Gradualmente estes livros foram sendo colecionados para formar o que nós agora conhecemos como o Segundo Testamento, que vem a se constituir o cânon[19] da Sagrada Escritura. Pela providência de Deus, os vinte e sete livros do Segundo Testamento foram colocados à parte de muitos outros escritos durante os primórdios da igreja. Eles foram preservados para comporem o cânon do Segundo Testamento por causa de sua inspiração e autoridade apostólica. Ryrie tem um resumo excelente deste processo:

“Depois que eles foram escrito, os livros individuais não estiveram imediatamente juntados dentro do cânon, ou coleção dos vinte e sete que compreende o Segundo Testamento. As cartas de Paulo e os Evangelhos foram preservadas a princípio pelas igrejas ou pessoas para quem eles foram enviados, e gradualmente todos os vinte e sete livros foram colecionados e formalmente reconhecidos pela igreja como um inteiro. Este processo durou cerca de 350 anos. … Alguns critérios foram desenvolvidos para se determinar que livros deveriam ser incluídos. (1) Foi o livro escrito ou aprovado por um apóstolo? (2) Seu conteúdo tem uma natureza espiritual? (3) Há evidências da inspiração Divina? (4) Foi  amplamente aceito pelas igrejas?  Não  menos do que os vinte e sete livros foram reconhecidos como canônicos e aceitos por todo as igrejas nos séculos posteriores, mas neste processo alguns não foram aceitos imediatamente ou universalmente. … mas finalmente esses foram incluídos, e o cânon foi concluído no Conselho de Cartago em 397 d.C.  Embora nenhuma cópia original de qualquer dos escritos que compreende o Segundo Testamento tenha sobrevivido, existe mais de 4.500 manuscritos Gregos de todo ou estratos de texto, mais 8.000 manuscritos Latinos e ao menos 1.000 outras versões dos livros originais que foram traduzidos. Cuidadoso estudo e comparação destas muitas cópias têm nós fornecido um preciso e confiável Segundo Testamento.”[20]

 

Razões Para o Estabelecimento do Cânon

 

Já no segundo século a circulação de livros que ensinavam heresias multiplicou-se acentuando a necessidade de se distinguir Sagrada Escritura válida de outra literatura cristã.  Ao menos três razões podem ser destacadas para explicar esta urgente necessidade:

 

  • Havia uma necessidade eclesiástica interna e uma externa – a primeira se relaciona com a necessidade de se estabelecer quais os livros que deveria ser lidos na igreja, que de fato fundamentassem o ensino apostólico; a segunda esta ligada à expansão rápida alcançado pelo cristianismo, e quais os livros que deveriam ser traduzidos para estas línguas.
  • Uma segunda razão esta relacionada com a questão teológica – uma vez que o ensino da igreja deveria ser fundamentado nas Escrituras (II Tm 3:16,17), tornou-se indispensável definir os limites da genuína herança apostólica, visto que rapidamente surgiram falsos e heréticos ensinos dentro das igrejas.
  • Uma terceira razão é de cunho político – pois a disposição do império, agora regido por Diocleciano (c. 302-305) era totalmente inversa da de Constantino. Um edito imperial havia ordenado a destruição das Escrituras, de forma que a igreja precisava estabelecer com clareza quais seriam de fato os livros canônicos e que deveriam serem preservados.

 

Reconhecimento Progressivo dos Livros Canônicos <!—->

 

Desde o principio, dentro do processo inspirativo, preservou-se os livros que viriam a constituir o cânon neotestamentário.  Eles foram copiados e circulavam entre as igrejas primitivas.  A ausência da elaboração de uma lista oficial destes livros arrastou o processo de reconhecimento universal por vários séculos.

Há fortes indicativos de que desde muito cedo, ainda que de forma embrionária, começou-se a coligir os escritos apostólicos que pudessem ser autenticados.  Este trabalho incipiente constituiu-se na base onde se estruturou todo o processo canônico do Segundo Testamento, como muito bem coloca Norman Geisler:

“Assim, o processo de canonização desde o início da igreja estava em andamento. As primeiras igrejas foram exortadas a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de outras igrejas. As coletâneas desses escritos apostólicos começaram a tomar forma nos tempos dos apóstolos. Pelo final do século I, todos os 27 livros do Segundo Testamento haviam sido recebidos e reconhecidos pelas igrejas cristãs. O cânon estava completo, e todos os livros haviam sido reconhecidos pelos crentes de outros lugares. Por causa da multiplicidade dos falsos escritos e da falta de acesso imediato às condições relacionadas ao recebimento inicial de um livro, o debate a respeito do cânon prosseguiu durante vários séculos, até que a igreja universal finalmente reconheceu a canonicidade dos 27 livros do Segundo Testamento.”[21]

 

QUADRO DE EVIDÊNCIAS LITERÁRIAS (Anexo 1 )

 

 

A Amplitude do Cânon neotestamentário

 

Ainda dentro desta questão literária, podemos, de forma sucinta, elaborarmos uma classificação centrífuga, partindo dos canônicos, no que se refere à aceitação dos vários livros:

 

  • Livros Aceitos por Todos: são chamados também de “homologoumena” [ unanimemente, de acordo ] e se constitui daqueles livros do cânon que foram aceitos unanimemente, desde o início, sem objeções.  Em geral, dos 27 livros do NT, 20 são homologoumena.

 

  • Livros Questionados por Alguns: são os chamados “antilegomena” [ contradizer, falar contra; disputado, duvidoso ] que são justamente os 7 livros que completam o total do Cânon neotestamentário (Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse). Não significa que eles não fossem aceitos como inspirados, mas por virem a serem conhecidos universalmente somente em um período posterior.  Todavia, eles foram autenticados desde o período apostólico e subapostólico, bem como pelos patristicos (conforme quadro acima).[22]

 

  • Livros Rejeitados por Todos: estes recebem também o nome de “pseudepígrafos” [escritos falsos ] e foram produzidos no transcorrer dos séculos II e III.  É uma literatura espúria e herética, totalmente comprometida com as idéias dos gnósticos, docéticos e ascéticos, sendo totalmente rejeitados e tendo sido classificados de “totalmente absurdos e ímpios” por Eusébio.  O numero exato destas obras não se sabe, porém já foram catalogados mais de 280 destas obras.[23]  O valor deste escritos são apenas históricos.

 

  • Livros Aceitos por Alguns: Estes são os chamados livros “apócrifos” [oculto, secreto ] e a diferença entre estes e os anteriormente mencionados é que alguns foram acolhido por alguns estudiosos do período patrístico.  Mas este reconhecimento nunca foi amplo ou permanente. Normam Geisler cita algumas razões pelas quais eles foram valorizados: [24]
  • revelam os ensinos da igreja do século II;
  • fornecem documentação da aceitação dos 27 livros canônicos do Segundo Testamento;
  • fornecem outras informações históricas a respeito da igreja primitiva, no que concerne à sua doutrina e liturgia.

 

Diante de todas estas informações, podemos afirma com toda convicção de que os 27 livros que compõem a nossa bíblia hoje, sempre foram autenticados desde os primórdios do cristianismo.  E aqueles que não fazem parte deste cânon nunca foram integralmente e/ou unanimemente aceitos universalmente desde o princípio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] Formação Acadêmica: Mestre em Ciências da Religião (Univ. Mackenzie); Especialização em História do Cristianismo (Univ. Metodista Piracicaba); Bacharel em Teologia (Seminário Presbiteriano SP); Bacharel em Ciências Contábeis (Univ. Cruzeiro do Sul). Blog: http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/ e http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

[2] “O vocábulo sintético se deriva da preposição grega ‘syn’, que significa – junto com, – e da raiz verbal ‘the’, que quer dizer – pôr – pelo que a reunião das duas partes significa ‘contiguidade’ ou ‘justaposição’. O método sintético ignora os detalhes e trata exclusivamente da interpretação de um documento como um todo.” MERRILL C. TENNEY – Gálatas: Escritura da Liberdade Cristã, Edições Vida Nova, São Paulo, 1967, p.25

[3] “O método analítico consiste em três estágios distintos: o esboço mecânico, que envolve a reescrituração do texto de forma a revelar sua estrutura gramatical; a formulação de um esboço que mostre, mediante raciocínio baseado na estrutura gramatical para depreender o sentido, como os pensamentos íntimos do texto estão relacionados entre si; e o registro de observações pessoais sobre o texto, assim analisado, a fim de encontrar tanto as verdades explicita como as verdades implícitas ali contidas.” MERRILL C. TENNEY, op. cit., p.204-205.

[4] “Essas verdades centrais aparecem em cada livro do Segundo Testamento, embora não sejam abordadas de modo patentemente sistemático. A comparação cuidadosa da fraseologia de qualquer livro isolado freqüentemente oferecerá um grupo representativo das principais premissas que sublinham seu ensino particular….  Existem três aspectos do método teológico que podem ser seguidos no estudo de qualquer livro da Bíblia: (1) a tentativa de definir as implicações que sublinham o ensino do livro; (2) a codificação de tópicos dos ensinamentos explícitos que são proeminentes no texto; e (3) o tratamento separado de qualquer seção do livro que possa ser predominantemente teológica em seu caráter.  A aplicação dos ensinos assim descobertos é a tarefa final do expositor.  MERRILL C. TENNEY, ibid., p.137-138.

[5] “Alusões a acontecimentos contemporâneos, a lugares, a tendências e movimentos, bem como a questões próprias da época em que a obra foi escrita, sempre devem ser explicadas a fim de iluminar claramente o pensamento expresso na obra.  Somente na medida em que o ensino de qualquer volume pode ser visto no contexto mais lato da situação que o produziu é que se pode obter uma verdadeira perspectiva de sua significação.” MERRILL C. TENNEY, ibid., p.116.

[6][6] Atualmente as academias tem preferido utilizar o termo: Segundo Testamento, para demonstrar a continuidade de pensamento com o Primeiro Testamento (AT ou VT).

[7]“O velho Pacto revela a santidade de Deus no padrão da justiça da lei e apontava para um Redentor próximo; o novo Pacto revela a santidade de Deus na justiça do Filho. O Segundo Testamento, então, registra e manifesta o conteúdo deste novo Pacto. … A mensagem do Segundo Testamento centraliza-se  (1) naquele que  deu-se a Si Mesmo para remissão dos pecados (Mat. 26:28) e (2) as pessoas (a igreja) que tem recebida Sua salvação. Assim o tema central do Segundo Testamento é salvação.” Charles Caldwell Ryrie, Estudo da Bíblia, Expandid, Edições Moody, p. 1498.

[8]J. Greshem Machen, O Segundo Testamento, Uma Introdução de Sua Literatura e História, editado por W. C. John, A Bandeira da Confiança da Verdade, Edinburgh, 1976, p. 16.

[9]Ver também o excelente comentário feito por Champlin, onde ele divide estes quatrocentos anos em quatro períodos bem definidos da história: 1) o período persa, 430-322 a.C.;  2) o período grego, 321-167 a.C.;  3) o período da independência (judaica), 167-63 a.C.; e 4) o período romano, 63 a.C. até Jesus Cristo.  Russell Norman Champlin, O Segundo Testamento Interpretado, Ed. Milenium, São Paulo, 1985, pp. 131-132.

[10] Vale a pena consultar o material organizado por McDowell sobre as profecias messiânicas do VT cumpridas integralmente no NT.  Josh McDowell, Evidência que Exige um Veredito, Ed. Candeia, São Paulo, 1989, pp. 181-224.

[11] “A esperança escatológica era a outra nota comum da fé de Israel.  Todos, desde os saduceus até os zelotes, guardavam a esperança messiânica, e criam fortemente que o dia chegaria em que Deus interferiria na história para reestrurar a Israel e cumprir suas promessas de um Reino de paz e justiça.  Alguns criam que seu dever estava em acelerar a chegada desse dia recorrendo às armas.  Outros diziam que tais coisas deviam deixar-se exclusivamente nas mãos de Deus.  Mas todos concordavam em sua visão dirigidas em direção ao futuro, quando se cumpririam as promessas de Deus.” [grifo meu] Justo L. Gonzales, A Era dos Mártires, v.1, Ed. Vida Nova, São Paulo, 1984, p.19.   Além desta esperança messiânica, os judeus contribuíram também: com sua fé monoteísta; seu sistema ético; sua literatura canônica do VT; sua filosofia da história e o surgimento da sinagoga.  Cairns faz um breve comentário de cada um destes pontos.  Earle E. Cairns, O Cristianismo Através dos Séculos, Ed. Vida Nova, São Paulo, 1984, pp.34-36.

[12] “É significativo que a língua Grega torna-se um, ao invés de muitos dialetos, no tempo que o domínio Romana predominou sobre o mundo. A língua espalhada por Alexandre, permaneceu mesmo depois da divisão do reino e penetrou em todas as esferas do mundo Romano. … Paulo escreveu a igreja em Roma em Grego, e Marcos Aurélio, o Imperador Romano, escreveu suas Meditações … no Grego. Esta era a língua não apenas da literatura, mas do comércio e do dia-a-dia cotidiano de todas as pessoas.”  A. T. Robertson, Uma Gramática do Segundo Testamento à Luz da Pesquisa Histórica, Ed. Broadman, Nashville, 1934, p. 54.  Cairns também destaca este ponto: “Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal.”  Earle e. Cairns, op. Cit., p. 32.

 

[13] Foi através deste dialeto do homem comum, conhecido como Koinê e diferente do grego clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Segundo Testamento, o mesmo fazendo os judeus de Alexandria para escrever o seu Velho Testamento, a Septuanginta.  Só recentemente se soube que o grego do Segundo Testamento era o grego do homem comum dos dias de Jesus Cristo, o que dá a diferença entre ele e o grego dos clássicos. … Esta descoberta deu origem ao surgimento de inúmeras traduções modernas.  Se o Evangelho foi escrito na língua do povo comum à época de sua produção, raciocinam os tradutores, deve ser colocado então na língua do homem comum de nossos dias.”  Earle E. Cairns, ibid., pp. 32-33.  OBS.:  Esta foi uma preocupação constante dos Reformadores do século XVI.

[14] “Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da unidade da espécie sob uma lei universal.  Este sentido da solidariedade do homem no Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade da raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob a pena do pecado e no fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo.”  Earle E. Cairns, ibid., p. 29.  “A unidade administrativa do Império Romano, com as figuras dos seus magistrados, serviu admiravelmente à difusão do Evangelho. … A unidade, dando segurança e ordem favoreceu o trabalho dos Apóstolos.  São Paulo foi protegido pelos romanos contra os judeus.”  Teodorico Ballarini, v.1, Ed. Vozes, Petrópolis, 1974, p. 36.

[15] Merrill C. Tenney, Tempos do Segundo Testamento, Eerdmans, Rapids Grande, 1965, pp.107-108.  Temos em português uma excelente obra de MERRILL C. TENNEY, O Segundo Testamento – Sua Origem e Análise, Vida Nova, São Paulo, 1972.  Nesta obra ele aborda detalhadamente estes aspectos aqui resumidamente citados.

[16] Charles Caldwell Ryrie, op. cit., p.1500.

[17] “Canonicidade é o estudo que trata do reconhecimento e da compilação dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus.”  Normam Geisler William Nix,  Introdução Bíblica – Como a Bíblia Chegou Até Nós,  Ed. Vida, São Paulo, 1997, p. 61. A definição de Tenney é instrutiva: “A palavra ‘cânon’ deriva do grego ‘jamom’, que significa ‘cana’, portanto uma vara ou barra, que, por serem utilizadas em medições, passaram a significar metaforicamente um padrão. Em gramática, significava uma regra; em cronologia, uma tabela de datas; e em literatura uma lista de obras que podiam ser corretamente atribuídas a determinado autor.” MERRILL C. TENNEY, Op. Cit., p.427.

[18] “Na época em que foram compostos os 27 escritos, eles ainda não eram ‘Escritura Sagrada’. … a Escritura Sagrada, para os autores do Segundo Testamento, era o Antigo Testamento. Quando introduzem citações pela formula: ‘para que se cumprisse o que está escrito’, não se referem senão ao Antigo Testamento.”  Oscar Cullmann,  A Formação do Segundo Testamento, Ed. Sinodal, São Leopoldo, 1979, p.113.  Normam Geisler faz uma breve diferenciação entre o processo de canonicidade do VT e do NT, conforme segue: “A história do cânon do Segundo Testamento difere da do Antigo em vários aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo religião internacional, não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligisse em determinado lugar. Faziam‑se coleções aqui e ali, que se iam completando, logo no início da igreja; não há notícia, todavia, da existência oficial de uma entidade que controlasse os escritos inspirados. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornassem universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais manuscritos do cânon do Segundo Testamento que do Antigo.  Outra diferença entre a história do cânon do Antigo Testamento, em comparação com a do Novo, é que a partir do momento em que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do Segundo Testamento, não mais houve movimentos dentro do cristianismo no sentido de acrescentar ou eliminar livros. 0 cânon do Segundo Testamento encontrou acordo geral no seio da igreja universal. Normam Geisler William Nix, op. cit., p. 99. [grifo meu]

[19] “A palavra cânon deriva do grego kanõn (“cana, régua”), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa “vara ou cana de medir” Ez 40.3). Mesmo em época anterior ao cristianismo, essa palavra era usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de medida. 0 Segundo Testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo‑se a padrão ou regra de conduta (GI 6.16). … Nos primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava “regra” de fé, ou escritos normativos (ou as Escrituras autorizadas). Por volta da época de Atanásio (c. 350), o conceito de cânon bíblico ou de Escrituras normativas já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade.” Normam Geisler William Nix, op. cit., pp. 61-62. [grifo meu].  Norman Geisler expõe muito bem os cinco critérios básicos, presentes neste processo como um todo: 1) O livro é autorizado – afirmar vir da parte de Deus?  2) É profético – foi escrito por um servo de Deus?  3) É digno de confiança – fala a verdade acerca de Deus, do homem, etc…?  4) É dinâmico – possui o poder de Deus que transforma vidas?  5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originalmente escrito – é reconhecido como proveniente de Deus?  Ver o comentário de cada um destes critérios em sua obra. Normam Geisler William Nix, ibidim, pp. 66-71.

[20] Charles Caldwell Ryrie, ibid., p.1499.  Ainda segundo Cullmann: “A elaboração do cânone do Segundo Testamento foi, portanto, o fruto de um processo que, até a fixação final, estendeu-se sobre vários séculos.  Mas o fato decisivo é a aparição da idéia do cânone.  Este momento importante situa-se nas proximidades dos anos 140-150.  Então a Igreja reconheceu que ela sozinha não podia mais controlar as tradições que pululavam, e então submeteu toda a tradição a uma norma superior, a tradição apostólica, fixada em escritos determinados que, só esses, teriam valor canônico.  Eis porque o caráter apostólico atribuído, com ou sem razão, a um escrito não deixou de influir sobre a escolha que foi feita. … O apóstolo tem, na Igreja, uma função única que não se repete mais: ele é testemunha ocular.  Por conseguinte, somente os escritos tendo por autor um apóstolo ou discípulo de apóstolo, são reputados como garantia da pureza do testemunho cristão. … Essas discussões, sem dar-se por encerradas definitivamente, foram concluídas, a grosso modo, no Oriente (com exceção da Síria) e no Ocidente, pelo fim do século IV.  As datas decisivas são, para o Oriente, a 39ª carta Pascal de Atanásio, em 367, e para o Ocidente, o Sínodo de Roma de 382 e os Concílios africanos de Hipo (393) e de Cartago (397).” Oscar Cullmann, op. cit., pp. 115,117.  Para uma abordagem histórica ver também: Edgard J. Goodspeed,  Como nos Veio a Bíblia, Imprensa Metodista, São Paulo, 1981.  Tenney destaca que o ‘…verdadeiro critério da canonicidade é a inspiração.’; e ele demonstra em três princípios como esta inspiração pode ser demonstrada: primeiro – a inspiração destes documentos pode ser apoiada pelo seu conteúdo intrínseco; segundo – essa inspiração pode ser corroborada pelo seu efeito moral; e terceiro – o testemunho histórico da Igreja Cristã mostrará o valor que era dado a esses livros. MERRILL C. TENNEY, ibidim, pp.428-430.

[21] Normam Geisler William Nix, ibidim, pp. 105.

[22] Em sua excelente obra, Normam Geisler, destaca de forma breve algumas razões pelas quais estes livros foram questionados em sua canonicidade, até meados do século IV. Normam Geisler William Nix, ibidim, pp.115-118.

[23] Normam Geisler fornece uma relação extensa destas obras. Normam Geisler William Nix, ibidim, pp. 112-114.

[24] Normam Geisler William Nix, ibidim, p. 119.  Ver também a indicação de alguns destes livros, pp. 119-122.